Minhas estórias

Oi, gente,

Esse blog foi criado para que meus amigos pudessem acompanhar minha aventura em Cornell. Digo aventura porque passar 4 meses e 8 dias fora de casa, sem o marido e sem o filho, sem os familiares e amigos, em uma cidade em outro país a cerca de 10.000 km de distância é mais do que o Indiana Jones poderia sonhar!

Só que quando voltei de Cornell, resolvi continuar registrando minhas estórias e reflexões. Tenho muitas coisas pra contar!
Comecei a perceber isso quando em minhas aulas, não importa qual o assunto, sempre tinha alguma experiência pra contar. Até num incêndio eu já estive! E às vezes me dá um comichão e tenho que sentar pra escrever e compartilhar minhas estórias. Adoro escrever. Já pensei em escrever um livro e publicar, mas vamos economizar papel e ficar por aqui mesmo.

Neste blog irei postar textos, fotos, vídeos, etc.

Escrevo em inglês e em português, pois compartilho esse blog também com pessoas que não falam português.

Um beijão!
Débora


segunda-feira, 28 de março de 2011

Estórias engraçadas - Minhas trapalhadas 2

Hoje foi o dia mais frio para mim desde que eu cheguei. Está abaixo de zero, nem sei o quanto, mas eu acho que é o vento que está mais forte, ou não me agasalhei o suficiente. Só sei que no percurso a pé que eu sempre faço, dessa vez eu entrei num prédio só para me aquecer porque não aguentei o frio. Fiquei louca para tomar algo quente. Nesse lugar que eu entrei tinha uma lanchonete, mas como eu odeio café e sou intolerante à lactose (segundo meu médico, não posso nem ‘olhar’ para uma vaca), desisti da idéia de beber algo lá. Mas eu fiquei com ‘chocolate quente’ na cabeça. No caminho de volta, decidi passar no supermercado e comprar os ingredientes para satisfazer meu desejo. Comprei o chocolate, o açúcar e o leite sem lactose (tem em todo lugar aqui, diferente de Fortaleza, que é difícil de achar). Bem, quando eu cheguei em casa, me aventurei na cozinha. Quem me conhece sabe dos meus dotes culinários: ZERO. Minha opinião é que cozinha é um lugar muito perigoso: cheio de facas e objetos cortantes, coisas quentes e panelas que explodem. NÃO! Minhas mãos foram feitas para outras coisas, tipo escrever, segurar livros, e outras coisinhas que não vou falar aqui, pois são de foro íntimo. Vou deixar você, leitor, imaginar. Enfim, minhas habilidades gastronômicas são péssimas. Mas meu desejo por chocolate quente falou mais alto. Quando comecei a fazer o chocolate, vi que tinha errado as medidas, mas continuei. Só que eu esqueci que o leite transborda quando ferve. Em um minuto o leite começou a borbulhar e não fui rápida o suficiente para apagar o fogo a tempo. Tinha leite em todo lugar! Fui tentar limpar, mas demorei tanto que quando fui finalmente tomar o tal chocolate, já estava frio. E o pior: o gosto estava horrível! Foi o pior chocolate quente que eu já tomei!!

sábado, 26 de março de 2011

Declaração de amor aos Juan no seu aniversário de 19 anos

26 de março. Dia especial. Despertou meu primeiro pensamento do dia. Dezenove anos atrás um dos maiores eventos da minha vida aconteceu: o nascimento do Juan. Eu sempre quis ter um só filho e sonhava com um menino com a carinha do Juan. Deus realizou meu sonho.
Às cinco da manhã a bolsa estourou e fomos para o hospital. Por volta de 9, o Juan veio ao mundo. Quando o vi pela primeira vez, eu estava ‘grogue’ da anestesia (foi cesariana), então essa memória é meio embaçada. Mas depois que eu acordei, eu o vi com cuidado. Procurei traços nossos. “Ainda bem que ele saiu bonito como o pai”, pensei. Achei ele lindo. Depois veio outro sentimento: medo. Como é que eu ia cuidar dele? Eu nunca tinha cuidado de um bebê na vida. Me sobreveio um senso enorme do tamanho da responsabilidade que eu estava assumindo naquele momento.
Os primeiros dias foram difíceis: sem dormir, tentando amamentar... Isso daria um parágrafo à parte. Eu tinha muito leite, o que endurecia os seios, e ele não tinha força para sugar. Até aprender como funcionava o processo, se passaram quinze dias. Dou graças ao Banco de Leite da UFC. Depois disso, consegui alimentar o Juan exclusivamente com leite materno durante 6 meses. Ele nem água bebia. Foi uma das melhores partes. Mas ainda tinham as noites sem sono. O Juan não dormia bem – era quase insone (hoje é uma luta para acordar!). Isso só se regularizou aos quase três anos de idade, acredite. Sem contar com o trabalhão que um bebê dá. Joaquim e eu decidimos não contratar uma babá (só no primeiro mês, minha mãe me deu uma enfermeira de presente). Nós dois cuidamos do Juan sozinhos e hoje me orgulho disso e não me arrependo. Perdi até amigos, porque não cabia um bebê nos programas. Mas sou mais o Juan.
Os próximos anos foram uma mistura de momentos ótimos com momentos estressantes. Ser mãe não é fácil. Muitas mães não admitem, porque falar a verdade pode parecer com a imagem de ‘mãe desnaturada’. Mas minha transparência e franqueza me fazem afirmar que o poeta estava certo: ser mãe é padecer num paraíso. Mas afirmo também que cada minuto vale a pena. Minha família é a melhor coisa da minha vida. E o Juan tem um lugar especial, componente básico da minha identidade. Li uma pesquisa sobre felicidade que dizia que ter filhos via de regra faz as pessoas mais felizes, principalmente quando os filhos chegam aos 18 anos! Cheguei nesse nível!
Meu amor pelo Juan é indescritível. É uma mistura de sentimentos, que passam por orgulho, preocupação, senso de proteção, apego, entusiasmo, entre outros. Esse senso de proteção que mencionei é o que mais se destaca. Estou sempre preocupada com a segurança dele, o que não se manifesta em nenhuma outra relação que eu estabeleço. Oro a Deus todos os dias para que ele esteja seguro. Quando ele começou a dirigir, a preocupação aumentou, mas peço a Deus também para acalmar meu coração e aceitar com saúde esse processo de crescimento do Juan.
Hoje o Juan está fazendo 19 anos. Ele já é um homem. Entre suas qualidades estão o ótimo senso de humor, sagacidade, inteligência, agilidade de pensamento, maturidade, sem contar com a beleza de parar o trânsito, lindo de morrer! Precisa melhorar: fazer o que eu mando na hora (faz 2 dias que eu pedi uma coisa pra ele e nada ainda), disciplina para estudar e para ter uma rotina de pessoas normais (a dele é de vampiro – dorme de dia e fica acordado à noite!), melhorar o gosto musical (me desculpem os nacionalistas, mas ele gosta de pagode e tem CDs de forró no carro!!!!) e prestar atenção ao que eu digo. Juan, hello!
Juan, essa é a minha declaração de amor para você esse ano. Feliz aniversário!

quinta-feira, 24 de março de 2011

Estórias engraçadas - Minhas trapalhadas 1

Duas amigas já me cobraram as minhas estórias engraçadas daqui de Cornell. Que bom. Quer dizer que bom humor está associado a mim. A vida sem rir não é vida, na minha opinião.

Bem, minha primeira trapalhada aqui.

Sair de casa nesse frio dá um trabalhão (tem um vídeo no blog sobre isso - "Vamos ficar em casa?") É que tem tanta coisa pra lembrar de levar! Casaco, luva, gorro, cachecol, documentos, dinheiro, enfim, muita coisa. Numa dessas saídas, quando estava a um quarteirão de casa, coloquei a mão no bolso e vi que tinha esquecido o passaporte. Voltei para pegar. Coloquei a chave na porta, mas nada. Quando olhei pela janela, vi que tinha esquecido a luz acesa. Quem me conhece sabe da minha neura com luzes acesas. Estranhei. Estranhei mais ainda quando a chave não abria a porta de jeito nenhum. Depois de alguns minutos, a porta se abre por dentro. Um japonês! Como assim? Como todas as casas aqui do condomínio são iguais, eu me enganei e estava tentando abrir a porta da casa errada!!

Prédios de Cornell

A Universidade de Cornell foi fundada em 1868 e é a 5a. melhor do mundo, segundo o ranking de universidades. Os prédios são muito antigos, belíssimos e muito bem conservados. O campus é muito lindo. Hoje saí com a câmera para fotografar alguns prédios, mas estava muito frio para ficar ao ar livre, então vou deixar para outra ocasião. Mas consegui tirar algumas fotos só para dar uma ideia da beleza do local.


quarta-feira, 23 de março de 2011

Primavera em Ithaca? Segunda parte

Resolvi filmar a neve caindo. É muito bonito!

Quando eu estava filmando, chegaram umas faxineiras que vem uma vez na semana. Aí eu pedi para uma delas bater uma foto minha na neve. Como estou só, raramente bato fotos minhas ( e quando bato, ficam horríveis).

Segue o link e a foto: http://www.youtube.com/watch?v=X5bL4bcSmUc

Primavera em Ithaca?

Semana passada fiquei morta de feliz quando vi o sol e tirei uma foto lá fora quando estava 14 graus. Esqueça! A primavera vai demorar para chegar aqui, segundo a meteorologia. Ontem nevou muito (é notícia em todos os jornais). Eis o cenário da minha janela:


Nesse exato momento, está nevando muito! E a temperatura: -2 graus C. Isso quer dizer: vou passar o dia estudando em casa. Por isso que eu fui na biblioteca ontem: pegar livros para me refugiar hoje!!!

Nunca mais reclamem de calor! Frio é muito pior!

As bibliotecas de Cornell

Ao todo são 33 bibliotecas. Pode me chamar de matuta, mas eu nunca tinha estado em bibliotecas tão boas. Tem praticamente tudo o que você imagina.
Ontem eu fui na Olin Library. Procurei dois livros no sistema de computador e anotei as referências. Procurei os livros e não os achei nas prateleiras. Quando eu perguntei para a bibliotecária, ela disse: "Esse é no 7o. andar e esse é no 5o.". Eu quase caí pra trás. Eu estava procurando no andar errado. Veja abaixo a foto de um dos andares e o mapa. Se você reparar direitinho, no mapa tem uns quadradinhos no canto do lado direito. Cada quadradinho corresponde a uma fila de prateleiras. O corredor é tão grande que me senti naquela cena do Matrix (aquele corredor infinito cheio de portas).


Veja a foto de um dos andares e o mapa (planta baixa):


Esse é o guia das prateleiras. Cada livro tem uma referência: BL2530.J3 M87. Bem, enquanto na UFC tem uma prateleira para cada letra, nessa biblioteca cada ANDAR corresponde a uma letra (quase - veja o guia). Fiquei chocada. Da letra Q em diante os livros estão em outra biblioteca. Aqui não cabe mais! Ao todo há 7 milhões de livros em Cornell. É por isso que estou aqui.

Essa é a foto do prédio da bilioteca - 7 andares.

Ah! E pode passar 1 ano com o livro! Caso alguém precise, existe um sistema que entra em contato e pede para a pessoa devolver o livro. Na UFC, você pode pegar um livro emprestado por 15 dias. Professores: 1 mês.

Minha dieta

Antes de viajar, algumas pessoas comentaram que eu estava muito magra. É que depois que eu fiquei intolerante à lactose, minha dieta se restringiu muito: nada de bolo, pizza, sobremesas, etc. Tudo que é bom e que engorda leva leite ou derivados. Com isso, perdi 5 kg em poucos meses. Adicione a isso o aparelho ortodôntico que estou usando. Leva uns 15 minutos para higienizar a boca, então eu penso duas vezes antes de comer. Terceiro, é que eu não gosto mesmo de comer. Eu como porque preciso. Comida é combustível. Sonho com o dia em que vão inventar umas pílulas nutritivas que vão substituir as refeições.
Nos primeiros dias aqui, perdi 1 quilo porque andei muito e comi pouco. Mas já recuperei e voltei pros meus 55 kgs. segundo meu médico, meu peso ideal é 54kg então não estou tão magra assim!!
Bem, aqui, estou fazendo 3 refeições por dia. Ao todo, eu como:
3 fatias de pão integral
3 copos de suco de laranja
1 refeição que eu compro congelada no supermercado (sabores variados)
2 fatias de peito de peru
1 donut (é açucar puro, mas eu adoro!)
2 tangerinas
1 ovo
2 a 3 pedaços de frutas (variadas: melão, pêssego, melancia, abacaxi)
2 pedaços de torta de maçã (sobremesa - eu mereço)

Aqui vão as fotos das minhas refeições. Na sequência: café da manhã, almoço e jantar. Nutricionistas de plantão, dêem uma nota de zero a 10!




sábado, 19 de março de 2011

Vídeo 3: Exercício de incêndio e onde estou morando

Eu estava muito bem estudando quando o alarme de incêndio disparou, assim como o meu coração. Pensei logo que eu tinha deixado alguma panela no fogo! Mas não. Era um exercício de incêndio. Aproveitei para filmar o lugar onde estou morando. Segue o link: http://www.youtube.com/watch?v=_8HH63ahNGk

Desculpem que o som não está muito bom. Da próxima vez eu falo mais alto (essa vida de cineasta é difícil...)

Video 2: Vamos ficar em casa?

Sobre a dificuldade que é se arrumar antes de sair no frio. Melhor ficar em casa. Segue o link: http://www.youtube.com/watch?v=9RDZbabS7as

Desculpem que o som não está muito bom. Da próxima vez eu falo mais alto (essa vida de cineasta é difícil...)

Vídeo 1: Ganhei um oscar!

Eu sabia que um dia alguém ia me descobrir. Segue o link:
http://www.youtube.com/watch?v=kpkz19-Jde4

Desculpem que o som não está muito bom. Da próxima vez eu falo mais alto (essa vida de cineasta é difícil...)

Agora está completo

Agora, sim, está completo! Instalaram a TV a cabo! Não fiquem pensando que passo o dia assistindo TV. Só nos tempos livres. TV é o meu passatempo favorito. É uma maneira de eu relaxar e de me desconcentrar dos estudos, trabalho ou preocupações. Tem um efeito terapêutico para mim. Pretendo passar os fins de semana em casa, pois como não tenho nenhum meio de transporte e sábado e domingo os ônibus só passam de hora em hora, ficar em casa é a melhor opção. É aí que entra a TV. Adivinhem o que eu estava assistindo quando bati a foto? Olhem bem! É o HOUSE!

A saudade mata a gente?

Hoje já faz dez dias desde que saí de Fortaleza a caminho de Ithaca. Foram dez dias repletos de sentimentos: euforia, alegria, apreensão, satisfação, sem contar com sensações (quase) novas de frio, de cansaço por andar tanto a pé, de alívio por conseguir realizar as tarefas, entre outros. Realmente vou incluir essa aventura entre as mais significantes de toda a minha vida, em função do desafio que ela representa, de caráter intelectual, acadêmico, familiar e pessoal. Mas se tem algum sentimento que ainda não me abateu foi aquele sentimento melancólico que nossa cultura chama de saudade. E eu me pergunto: Será que eu sou normal? Como brasileira que sou (agora mais que nunca vou me questionar se a cegonha não errou mesmo o meu endereço), não deveria estar morrendo de saudade de casa?

Essa reflexão começou a se materializar na minha cabeça em forma de texto (antes de escrever, o texto é gerado na minha mente) quando a minha sogra, D. Fance, me perguntou se eu estava com saudade. Eu respondi que se saudade for necessariamente associada à tristeza, não. Se a saudade for sentir falta (sem tristeza) das pessoas e coisas que amo e que não estão aqui comigo, sim. Tivemos uma conversa de vários minutos sobre o assunto, mas não tenho certeza se ela compreendeu bem minha argumentação. Vou tentar resumir aqui o que penso sobre saudade.

Primeiramente, quero explorar brevemente o sentido etimológico da palavra. Segundo a Wikipedia, o termo saudade [a partir daqui vou copiar e colar da internet, fazendo alguns cortes] “descreve a mistura dos sentimentos de perda, distância e amor. A palavra vem do latim "solitas, solitatis" (solidão), na forma arcaica de "soedade, soidade e suidade". Diz a lenda que foi cunhada na época dos Descobrimentos e no Brasil colônia esteve muito presente para definir a solidão dos portugueses numa terra estranha, longe de entes queridos. Define, pois, a melancolia causada pela lembrança; a mágoa que se sente pela ausência ou desaparecimento de pessoas, coisas, estados ou ações. O termo gerou derivados como "saudosismo", "saudosista" (apegado à ideias, usos, costumes passados) e o termo de forte carga semântica emocional "saudoso", que é aquele que produz saudades, podendo ser utilizado para entes falecidos ou até mesmo substantivos abstratos como em "os saudosos tempos da mocidade", ou ainda, não referente ao produtor, mas aquele que as sente, que dá mostras de saudades.” [Agora sou eu de novo, leitor] Conforme minha suspeita, a palavra carrega um forte sentido cultural. Para a nossa cultura, saudade é esse sentimento melancólico de estar só e longe dos seus. Um artigo da Folha Online diz que segundo uma pesquisa, ‘saudade’ é a 7ª palavra mais difícil de traduzir, justamente por ser carregada de significado cultural, impossível de transpor para outro idioma em sua totalidade. Na língua inglesa (que se não fosse o engano da D. Cegonha deveria ser minha língua materna), a palavra ‘saudade’ não existe e para se aproximar da idéia se usa o verbo “miss”, ou seja, “sentir falta”. O termo em inglês mais parecido e que carrega um pouco da tristeza da saudade é o adjetivo “homesick”, que poderia ser traduzido por “saudade de casa”, mas mesmo esse não carrega toda a melancolia do português, talvez por a língua inglesa ser mais pragmática e menos emocional.

Depois dessa breve, porém necessária, incursão etimológica, afirmo que deveriam inventar um termo na língua portuguesa que expressasse um sentimento não melancólico de saudade. Provisoriamente chamarei esse sentimento de saudade saudável.

Comecei a pensar sobre saudade saudável quando o Juan foi fazer intercâmbio nos EUA por dois meses e meio. Seria a primeira vez que passaríamos tanto tempo separados. Pensei em como me sentiria. Conversando com uma colega cuja filha já tinha passado um tempo fora, ela disse: “Você vai morrer de saudade. Eu chorava todo dia.” Quando ouvi aquilo, imediatamente me sobreveio uma repulsa. Pensei: “Eu não quero chorar todo dia! Por que chorar se vai ser algo tão bom pra ele? Se for bom para ele, é bom para mim, então não vou chorar!” Outra mãe na mesma situação me disse: “Não posso nem olhar pro quarto dele que eu choro!” Não nego que temi sentir a mesma coisa. Mas quando o Juan viajou, nem na despedida no aeroporto me entristeci ao ponto de derramar lágrimas. O que senti foi um grande orgulho de ver meu filho crescendo, virando adulto, cuidando de si. Aquele menininho que cuidei tanto agora era um homem! Isso não é motivo para chorar. Essa atitude me acompanhou por todas as dez semanas em que o Juan esteve fora. Claro que senti falta e sempre me lembrava dele, pensando no que ele diria ou faria se estivesse comigo em determinados momentos. Mas a isso chamei de saudade saudável. Da mesma forma, após esses dez dias (serão 18 semanas longe de casa e já estou na segunda), tenho preservado essa atitude. Ainda não senti em nenhum momento a melancolia que a cultura lusitano-brasileira insiste em cobrar de nós, como se fosse prova inconfundível de amor.

Outro fato é que há situações onde a saudade melancólica invariavelmente se manifesta: na morte, na guerra, em caso de aprisionamento ou qualquer tipo de afastamento forçado, como quando as centenas de milhares de africanos foram involuntariamente trazidos como escravos para as Américas. São comuns os relatos do sofrimento deles nos navios-negreiros e após chegarem ao Novo Mundo, que para eles estava para ‘novo mundo de horror’, tendo em vista a crueldade com que isso era feito. A meu ver, aí a saudade nos moldes da descrita acima se justifica. Entretanto, no meu caso, minha vinda para cá foi consensual, parte de uma negociação familiar, pensada e repensada. Enriquecer minha pesquisa aqui certamente renderá muitos frutos para a minha vida pessoal, acadêmica e profissional. Como se diz em inglês, “No pain, no gain” (Sem dor, não há ganho – tradução minha). Sendo assim, é um investimento. Não há lugar para melancolia.

Outro motivo pelo qual tem me sido possível desenvolver essa atitude de saudade saudável é a tecnologia de hoje, que possibilita a oportunidade de nos comunicarmos com facilidade. Tenho falado e visto o Joaquim diariamente pelo Skype e o que é ainda melhor, sem que isso me custe nada. No dia em que cheguei comprei um celular e liguei para casa. Aqui estou assistindo aos mesmos programas que assisto em casa, pela TV a cabo. Falo com meus amigos por emails, pelo Facebook e pelo blog instantaneamente. A tecnologia digital amenizou muito os sentimentos de saudade. Quando fui estudante de intercâmbio aqui nos EUA durante seis meses em 1982, só liguei poucas vezes para casa por causa do alto custo. Uma carta levava dez dias para chegar. A dificuldade da comunicação, diferente de hoje, causava um grande abismo nos relacionamentos. Talvez esse seja um dos motivos pelos quais ainda não senti a dolorosa saudade.

Para concluir, é por causa da saudade saudável que estou bem. Quero tirar o melhor proveito desses momentos e não quero estragar essa oportunidade com Romantismo, e me refiro à corrente literária e artística, que muito influenciou nossa cultura, onde “seus autores exacerbavam o sentimentalismo, sendo essa escola literária movida através da emoção, especialmente a saudade, a tristeza e a desilusão. O romântico analisa e expressa a realidade por meio dos sentimentos e acredita que só sentimentalmente se consegue traduzir aquilo que ocorre no interior do indivíduo relatado. Emoção acima de tudo” (texto entre aspas adaptado da Wikipedia – Romantismo). A essa corrente se contrapôs o Realismo. Mas não quero me afiliar a nenhuma linha de pensamento. Meu compromisso é com ser feliz e aproveitar ao máximo o que de bom a vida tem para me proporcionar. Sei que dias difíceis virão, mas que eles passarão e deixarão um legado que me fará ser a melhor Débora que eu posso ser. Para consolidar meu argumento, deixo a minha versão da poesia abaixo. As palavras em parênteses representam o que eu tirei da poesia. Em letras maiúsculas está o que eu acrescentei. Que me desculpem os autores e os românticos leitores.

A Saudade NÃO Mata a Gente

Composição: Antônio Almeida / João de Barro (Braguinha)

Fiz meu rancho na beira do rio
Meu amor foi comigo morar
E nas redes nas noites de frio
Meu bem me abraçava pra me agasalhar
Mas (E) agora, meu Deus, vou-me embora
Vou-me embora (e não sei se vou voltar) MAS SEI QUE VOU VOLTAR
A saudade nas noites de frio, MUITO FRIO (ABAIXO DE ZERO)
Em meu peito vazio NÃO virá se aninhar

A saudade NÃO é dor pungente, morena
A saudade NÃO mata a gente, morena
A saudade NÃO é dor pungente, morena
A saudade NÃO mata a gente

sexta-feira, 18 de março de 2011

Parece que o inverno já tá acabando

Ei, gente, eu estava estudando em casa (ou estou aqui ou na biblioteca) e resolvi olhar pela janela e vi que estava fazendo sol!!! A neve já derreteu e dizem que agora o tempo vai esquentar, embora tá prevista uma pesquena queda essa próxima semana. Ontem já saí sem casaco, só de suéter e agora pedi a um cara que ia passando pra tirar essa foto (não repare na roupa de moleton - era do Juan - é o que eu visto em casa). Não dá pra ver, mas eu estou até de chinelo do lado de fora!! Está 14 graus. Que bom!

terça-feira, 15 de março de 2011

Foto do Professor Henrique Cunha (orientador no Brasil) em Cornell - 1992

Relíquia! Meu orientador é o terceiro da direita para a esquerda. O diretor da biblioteca me mostrou essa foto e eu escaneei. Na foto também estão: Carolyn Cooper da Jamaica, Ali Masuri, um dos maiores historiadores da Africa, e o Molefi Asanti no outro lado.

Africana Center - predio

Africana Center - placa

Eu estou mesmo aqui!!!

Africana Center - secretaria

So faltam a Fernanda, o Lima ou a Emanusia!

Africana Library

Africana Library

Com o diretor Eric Kofi Acree (ele conheceu o Prof. Henrique, meu orientador no Brasil), quando esteve aqui em 92 e 96.

Bilioteca - Africana Library

Tinham 1503 titulos so sobre os rastafari. Em todas as bibliotecas de Fortaleza tem

zero.
Essa pintura é de um grande africanista que inspirou o nome da biblioteca: John Henrik Clarke Africana Library.

Meu escritorio

Compartilhado com outros professores visitantes - tem 5 computadores, impressora, etc.

Sala de aula

Com direito a

quadro negro e giz e tudo!

Africana Center - Copa

Sala da galinha? Piada interna para os da CB

Africana Center - cozinha

segunda-feira, 14 de março de 2011

Meus primeiros dias em Ithaca

March 10th, 2011
I’m finally here after 18 hours. The flight to Ithaca was in the smallest plane I’ve ever seen and been in – only 9 rows! But it was OK. I made it. The weather is not bad – about 3 to 5 degrees Celsius. Totally bearable. I arrived at the Maplewood Community Center at about 10 am and got information and keys to the place I’ll be living in the next four months. It’s a 4-bedroom house (they call it apartment, though) and it’s nice – with a living room and a kitchen and two bathrooms. I’m alone in the place so I got it all to myself. The only problem is that there’s no TV. I can’t live without a TV. I mean, there is one at the Community Center but that’s not good enough for me.

After I got into the apartment, I had to go out for some arrangements: open a bank account, get a phone, buy a printer/scanner, buy na adaptor for my computer battery charger, register at the International student office, sign the lease agreement, eat. I got to do most of that but it wasn’t until about 9 pm that I got back home. I’ve been up for almost 40 hours but I’m not tired. I guess I’m too excited. Pinch me – am I really here? Am I going to be here for the next four months?

14 de março
Só hoje, dia 14/3 (cheguei dia 9/3), consegui entrar na internet. O sistema de Cornell detectou que tinham vírus no meu computador e bloqueou a minha entrada. Demorei dias para resolver o problema. Fora isso, meu cabo não coube aqui e tive a maior dificuldade para encontrar outro. Passei os dois primeiros dias só resolvendo as coisas para me instalar: telefone, TV, internet, banco, etc. O frio tá intenso. Hoje tá -3 graus e nevou à noite. Estou sem coragem para sair. Liguei para o Africana e pedi para só ir amanhã porque tenho muitas coisas pra resolver na internet (enviar formulários para a CAPES, etc).

Ithaca é bonita e agradável, mas as casas são muito velhas e a maioria mal conservada. Não deu ainda pra conhecer muita coisa, por causa do frio e das coisas que tive pra resolver, às quais precisei dar prioridade. A universidade em si é uma cidade - enorme, com muitos prédios, entres antigos e modernos. Mas tudo muito organizado e as pessoas até agora muito gentis. Amanhã vou encontrar a minha orientadora.

Minha acomodação é legal. É uma casa (que eles chamam de apartment) com quatro quartos, dois banheiros, cozinha e sala. Não tenho roomates - é tudo só meu!!!! Estou achando ótimo, pra ser sincera, pois tudo é do meu jeito: a temperatura do aquecedor, quanto tempo passo no banheiro, etc!!

Como não tinha o que fazer esse fim de semana (sem TV nem internet), passei o domingo lendo e escrevi um texto sobre nossa dependência das coisas (está em algum lugar no blog).
Bjs

Meu quarto - nenhum 5 estrelas, mas tem tudo que eu preciso

Despedida no aeroporto_Mãe

Despedida no aeroporto

A casa onde estou morando - imagina levar duas malas nessa neve!

Nossa dependência das coisas

Sobre a nossa dependência das coisas
Em todas as experiências que vivo, sempre tento aprender alguma coisa. No mínimo, elas me levam a algum tipo de reflexão. Um conceito sobre o qual tenho refletido muito ultimamente é ‘independência’. Estar irremediavelmente na meia-idade nos faz ver que na vida podemos contar verdadeiramente com poucas pessoas, o que pode nos levar a uma sensação de estar só. Em função desse fato, tento sempre realizar minhas tarefas de forma que dependa pouco de outros: tentar encontrar um caminho por meio de um mapa (ou GPS), ao invés de pedir direções, ir pessoalmente buscar os objetos que preciso, ao invés de pedir que alguém os traga, ter meu meio de transporte individual ao invés de usar transporte coletivo ou pedir para alguém me buscar ou me levar a algum lugar, preparar (no meu caso descongelar e esquentar) minha própria comida, enfim, esses são alguns exemplos que demonstram que sou um ser razoavelmente independente. No entanto, esses três primeiros dias em que estou nos Estados Unidos como parte do meu doutorado têm me feito parar e pensar até que ponto realmente é possível ser independente.
Pelo sentido etimológico da palavra independência, entende-se uma desconexão com outros sistemas que não o seu próprio: “sou independente e não preciso de ninguém – eu me basto”. Ledo engano. É impossível não depender de ninguém ou de nada. A natureza universalmente é interdependente. Os animais cedo se desliguem de seus progenitores e começam a andar e se alimentar sozinhos. Porém, existe toda uma cadeia alimentar que os interconecta. Os carnívoros precisam de outros animais e os herbívoros de plantas, que também fazem parte de todo o ecossistema e por sua vez dependem de processos interligados. Ou seja, não existe independência no reino animal ou vegetal. O ser humano, cuja diferença fundamental está no pensar, na volitude e na infinita possibilidade de criar sistemas complexos de comportamento, esse, mais que todos os seres vivos, sofre grande dependência do meio externo, a começar pela sua necessidade de acompanhamento por parte dos seus pais ou responsáveis por um longo período de tempo. Quanto mais o ser humano desenvolve seus elaborados processos de alimentação, comunicação, transporte, geração de energia, entre outros tantos, mais dependentes desses processos ele se torna. Historicamente, o ser humano primitivo dependia de simples armas de caça e pesca para se alimentar e sobreviver. Sabe-se que com o tempo começaram a ser criados sistemas agrícolas, entre outros, que foram ficando cada vez mais complicados. A civilização como conhecemos hoje formou uma rede tão intrincada de processos e sistemas que nos tornou mais dependentes do que jamais fomos. Ou seja, em busca de independência e autonomia, o ser humano está cada vez mais dependente.
Quando cheguei em Ithaca, a fim de me acomodar precisei resolver várias questões, todas interdependentes. A primeira delas foi me reportar ao escritório de estudantes estrangeiros (ISSO) e depois ao meu departamento, de onde eu receberia uma licença para obter um número de identificação (NetID) que me permitiria acessar a rede de internet, usar gratuitamente a rede de transporte coletivo e acessar as bibliotecas da universidade, entre outros privilégios. Também foi necessário providenciar um sistema de comunicação com o Brasil, ao qual dei prioridade, pois precisava falar com a família. Para isso, adquiri uma linha de telefone celular, pois do apartamento não posso fazer ligações internacionais. Precisei também abrir uma conta no banco local, a partir da qual a CAPES poderá fazer o depósito da minha bolsa. Só que para abrir a conta, precisei da comprovação de um endereço fixo, que só poderia obter após assinar o contrato de aluguel do local onde estarei morando nos próximos quatro meses. Para resolver tudo isso, é necessário me familiarizar com os sistemas de transporte e de locomoção da cidade. Como cheguei numa quinta-feira, não consegui realizar todas as tarefas, pois existe um trâmite que precisa ser respeitado até obter o NetID, seguido pelo fim de semana, quando a maioria dos serviços não funciona.
Sendo assim, três dias após minha chegada, estou quase incomunicável, pois ainda não consegui acessar a internet, sem a qual vários processos dos quais dependerei não poderão ser realizados. Poderia ter utilizado uma identificação provisória, mas os onze vírus que estavam em meu computador bloquearam meu acesso à rede de Cornell. Como o sistema de tomadas no Brasil é diferente, precisei de um novo cabo para o computador, que consegui com bastante dificuldade. Finalmente, foi feita uma varredura no meu computador, mas é preciso esperar até segunda-feira para obter o acesso à rede, quer provisório, quer via NetID, o que chegar primeiro. Só hoje consegui sair para comprar uma pequena TV para passar meu tempo livre, mas só poderei instalar a TV a cabo segunda-feira, o que significa que ainda não está funcionando. Como está muito frio, decidi não sair mais de casa, pois o ônibus só passa uma vez por hora e já gastei minha cota de táxis por hoje na busca frenética pelo cabo, na esperança de que poderia acessar a rede ainda hoje. Para me comunicar, dependo do computador, do celular e da internet. Para me sentir bem social e afetivamente, dependo da família e dos amigos. Para não morrer de frio, dependo de energia elétrica e do (santo) aquecedor. Para comer, dependo dos restaurantes, das comidas congeladas e bebidas dos supermercados, do fogão e do micro-ondas. Para me locomover, dependo do ônibus, do táxi e dos meus pés, que se não fosse pelo frio congelante, estaria usando mais. Por falar em andar, adeus aos meus saltos altos aqui, pois tenho andado muito. Tive até que comprar sapatos de salto baixo, sacrificando a elegância em função da saúde dos pés e do conforto. Há um ditado local que diz que os alunos de Cornell têm pernas fortes!
Em suma, estou absolutamente presa na rede da nossa dependência das coisas. Na busca por independência e autonomia, o ser humano se enrolou numa interminável teia de dependência dos seus próprios sistemas e processos. E a isso se chama de progresso. Pensando bem, é um progresso saber que somos interdependentes, que não somos uma ilha, como disse John Donne (1). Saber que nossos atos aparentemente inconseqüentes refletem nas vidas dos outros de maneiras imprevisíveis. Acho saudável ser autônoma e quero continuar a busca por essa qualidade, mas acho que vou pensar duas vezes antes de dizer de novo que sou um ser independente.

1“No man is an island entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main”. (John Donne)