March 10th, 2011
I’m finally here after 18 hours. The flight to Ithaca was in the smallest plane I’ve ever seen and been in – only 9 rows! But it was OK. I made it. The weather is not bad – about 3 to 5 degrees Celsius. Totally bearable. I arrived at the Maplewood Community Center at about 10 am and got information and keys to the place I’ll be living in the next four months. It’s a 4-bedroom house (they call it apartment, though) and it’s nice – with a living room and a kitchen and two bathrooms. I’m alone in the place so I got it all to myself. The only problem is that there’s no TV. I can’t live without a TV. I mean, there is one at the Community Center but that’s not good enough for me.
After I got into the apartment, I had to go out for some arrangements: open a bank account, get a phone, buy a printer/scanner, buy na adaptor for my computer battery charger, register at the International student office, sign the lease agreement, eat. I got to do most of that but it wasn’t until about 9 pm that I got back home. I’ve been up for almost 40 hours but I’m not tired. I guess I’m too excited. Pinch me – am I really here? Am I going to be here for the next four months?
14 de março
Só hoje, dia 14/3 (cheguei dia 9/3), consegui entrar na internet. O sistema de Cornell detectou que tinham vírus no meu computador e bloqueou a minha entrada. Demorei dias para resolver o problema. Fora isso, meu cabo não coube aqui e tive a maior dificuldade para encontrar outro. Passei os dois primeiros dias só resolvendo as coisas para me instalar: telefone, TV, internet, banco, etc. O frio tá intenso. Hoje tá -3 graus e nevou à noite. Estou sem coragem para sair. Liguei para o Africana e pedi para só ir amanhã porque tenho muitas coisas pra resolver na internet (enviar formulários para a CAPES, etc).
Ithaca é bonita e agradável, mas as casas são muito velhas e a maioria mal conservada. Não deu ainda pra conhecer muita coisa, por causa do frio e das coisas que tive pra resolver, às quais precisei dar prioridade. A universidade em si é uma cidade - enorme, com muitos prédios, entres antigos e modernos. Mas tudo muito organizado e as pessoas até agora muito gentis. Amanhã vou encontrar a minha orientadora.
Minha acomodação é legal. É uma casa (que eles chamam de apartment) com quatro quartos, dois banheiros, cozinha e sala. Não tenho roomates - é tudo só meu!!!! Estou achando ótimo, pra ser sincera, pois tudo é do meu jeito: a temperatura do aquecedor, quanto tempo passo no banheiro, etc!!
Como não tinha o que fazer esse fim de semana (sem TV nem internet), passei o domingo lendo e escrevi um texto sobre nossa dependência das coisas (está em algum lugar no blog).
Bjs
Minhas estórias
Oi, gente,
Esse blog foi criado para que meus amigos pudessem acompanhar minha aventura em Cornell. Digo aventura porque passar 4 meses e 8 dias fora de casa, sem o marido e sem o filho, sem os familiares e amigos, em uma cidade em outro país a cerca de 10.000 km de distância é mais do que o Indiana Jones poderia sonhar!
Só que quando voltei de Cornell, resolvi continuar registrando minhas estórias e reflexões. Tenho muitas coisas pra contar!
Comecei a perceber isso quando em minhas aulas, não importa qual o assunto, sempre tinha alguma experiência pra contar. Até num incêndio eu já estive! E às vezes me dá um comichão e tenho que sentar pra escrever e compartilhar minhas estórias. Adoro escrever. Já pensei em escrever um livro e publicar, mas vamos economizar papel e ficar por aqui mesmo.
Neste blog irei postar textos, fotos, vídeos, etc.
Escrevo em inglês e em português, pois compartilho esse blog também com pessoas que não falam português.
Um beijão!
Débora
Esse blog foi criado para que meus amigos pudessem acompanhar minha aventura em Cornell. Digo aventura porque passar 4 meses e 8 dias fora de casa, sem o marido e sem o filho, sem os familiares e amigos, em uma cidade em outro país a cerca de 10.000 km de distância é mais do que o Indiana Jones poderia sonhar!
Só que quando voltei de Cornell, resolvi continuar registrando minhas estórias e reflexões. Tenho muitas coisas pra contar!
Comecei a perceber isso quando em minhas aulas, não importa qual o assunto, sempre tinha alguma experiência pra contar. Até num incêndio eu já estive! E às vezes me dá um comichão e tenho que sentar pra escrever e compartilhar minhas estórias. Adoro escrever. Já pensei em escrever um livro e publicar, mas vamos economizar papel e ficar por aqui mesmo.
Neste blog irei postar textos, fotos, vídeos, etc.
Escrevo em inglês e em português, pois compartilho esse blog também com pessoas que não falam português.
Um beijão!
Débora
segunda-feira, 14 de março de 2011
Nossa dependência das coisas
Sobre a nossa dependência das coisas
Em todas as experiências que vivo, sempre tento aprender alguma coisa. No mínimo, elas me levam a algum tipo de reflexão. Um conceito sobre o qual tenho refletido muito ultimamente é ‘independência’. Estar irremediavelmente na meia-idade nos faz ver que na vida podemos contar verdadeiramente com poucas pessoas, o que pode nos levar a uma sensação de estar só. Em função desse fato, tento sempre realizar minhas tarefas de forma que dependa pouco de outros: tentar encontrar um caminho por meio de um mapa (ou GPS), ao invés de pedir direções, ir pessoalmente buscar os objetos que preciso, ao invés de pedir que alguém os traga, ter meu meio de transporte individual ao invés de usar transporte coletivo ou pedir para alguém me buscar ou me levar a algum lugar, preparar (no meu caso descongelar e esquentar) minha própria comida, enfim, esses são alguns exemplos que demonstram que sou um ser razoavelmente independente. No entanto, esses três primeiros dias em que estou nos Estados Unidos como parte do meu doutorado têm me feito parar e pensar até que ponto realmente é possível ser independente.
Pelo sentido etimológico da palavra independência, entende-se uma desconexão com outros sistemas que não o seu próprio: “sou independente e não preciso de ninguém – eu me basto”. Ledo engano. É impossível não depender de ninguém ou de nada. A natureza universalmente é interdependente. Os animais cedo se desliguem de seus progenitores e começam a andar e se alimentar sozinhos. Porém, existe toda uma cadeia alimentar que os interconecta. Os carnívoros precisam de outros animais e os herbívoros de plantas, que também fazem parte de todo o ecossistema e por sua vez dependem de processos interligados. Ou seja, não existe independência no reino animal ou vegetal. O ser humano, cuja diferença fundamental está no pensar, na volitude e na infinita possibilidade de criar sistemas complexos de comportamento, esse, mais que todos os seres vivos, sofre grande dependência do meio externo, a começar pela sua necessidade de acompanhamento por parte dos seus pais ou responsáveis por um longo período de tempo. Quanto mais o ser humano desenvolve seus elaborados processos de alimentação, comunicação, transporte, geração de energia, entre outros tantos, mais dependentes desses processos ele se torna. Historicamente, o ser humano primitivo dependia de simples armas de caça e pesca para se alimentar e sobreviver. Sabe-se que com o tempo começaram a ser criados sistemas agrícolas, entre outros, que foram ficando cada vez mais complicados. A civilização como conhecemos hoje formou uma rede tão intrincada de processos e sistemas que nos tornou mais dependentes do que jamais fomos. Ou seja, em busca de independência e autonomia, o ser humano está cada vez mais dependente.
Quando cheguei em Ithaca, a fim de me acomodar precisei resolver várias questões, todas interdependentes. A primeira delas foi me reportar ao escritório de estudantes estrangeiros (ISSO) e depois ao meu departamento, de onde eu receberia uma licença para obter um número de identificação (NetID) que me permitiria acessar a rede de internet, usar gratuitamente a rede de transporte coletivo e acessar as bibliotecas da universidade, entre outros privilégios. Também foi necessário providenciar um sistema de comunicação com o Brasil, ao qual dei prioridade, pois precisava falar com a família. Para isso, adquiri uma linha de telefone celular, pois do apartamento não posso fazer ligações internacionais. Precisei também abrir uma conta no banco local, a partir da qual a CAPES poderá fazer o depósito da minha bolsa. Só que para abrir a conta, precisei da comprovação de um endereço fixo, que só poderia obter após assinar o contrato de aluguel do local onde estarei morando nos próximos quatro meses. Para resolver tudo isso, é necessário me familiarizar com os sistemas de transporte e de locomoção da cidade. Como cheguei numa quinta-feira, não consegui realizar todas as tarefas, pois existe um trâmite que precisa ser respeitado até obter o NetID, seguido pelo fim de semana, quando a maioria dos serviços não funciona.
Sendo assim, três dias após minha chegada, estou quase incomunicável, pois ainda não consegui acessar a internet, sem a qual vários processos dos quais dependerei não poderão ser realizados. Poderia ter utilizado uma identificação provisória, mas os onze vírus que estavam em meu computador bloquearam meu acesso à rede de Cornell. Como o sistema de tomadas no Brasil é diferente, precisei de um novo cabo para o computador, que consegui com bastante dificuldade. Finalmente, foi feita uma varredura no meu computador, mas é preciso esperar até segunda-feira para obter o acesso à rede, quer provisório, quer via NetID, o que chegar primeiro. Só hoje consegui sair para comprar uma pequena TV para passar meu tempo livre, mas só poderei instalar a TV a cabo segunda-feira, o que significa que ainda não está funcionando. Como está muito frio, decidi não sair mais de casa, pois o ônibus só passa uma vez por hora e já gastei minha cota de táxis por hoje na busca frenética pelo cabo, na esperança de que poderia acessar a rede ainda hoje. Para me comunicar, dependo do computador, do celular e da internet. Para me sentir bem social e afetivamente, dependo da família e dos amigos. Para não morrer de frio, dependo de energia elétrica e do (santo) aquecedor. Para comer, dependo dos restaurantes, das comidas congeladas e bebidas dos supermercados, do fogão e do micro-ondas. Para me locomover, dependo do ônibus, do táxi e dos meus pés, que se não fosse pelo frio congelante, estaria usando mais. Por falar em andar, adeus aos meus saltos altos aqui, pois tenho andado muito. Tive até que comprar sapatos de salto baixo, sacrificando a elegância em função da saúde dos pés e do conforto. Há um ditado local que diz que os alunos de Cornell têm pernas fortes!
Em suma, estou absolutamente presa na rede da nossa dependência das coisas. Na busca por independência e autonomia, o ser humano se enrolou numa interminável teia de dependência dos seus próprios sistemas e processos. E a isso se chama de progresso. Pensando bem, é um progresso saber que somos interdependentes, que não somos uma ilha, como disse John Donne (1). Saber que nossos atos aparentemente inconseqüentes refletem nas vidas dos outros de maneiras imprevisíveis. Acho saudável ser autônoma e quero continuar a busca por essa qualidade, mas acho que vou pensar duas vezes antes de dizer de novo que sou um ser independente.
1“No man is an island entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main”. (John Donne)
Em todas as experiências que vivo, sempre tento aprender alguma coisa. No mínimo, elas me levam a algum tipo de reflexão. Um conceito sobre o qual tenho refletido muito ultimamente é ‘independência’. Estar irremediavelmente na meia-idade nos faz ver que na vida podemos contar verdadeiramente com poucas pessoas, o que pode nos levar a uma sensação de estar só. Em função desse fato, tento sempre realizar minhas tarefas de forma que dependa pouco de outros: tentar encontrar um caminho por meio de um mapa (ou GPS), ao invés de pedir direções, ir pessoalmente buscar os objetos que preciso, ao invés de pedir que alguém os traga, ter meu meio de transporte individual ao invés de usar transporte coletivo ou pedir para alguém me buscar ou me levar a algum lugar, preparar (no meu caso descongelar e esquentar) minha própria comida, enfim, esses são alguns exemplos que demonstram que sou um ser razoavelmente independente. No entanto, esses três primeiros dias em que estou nos Estados Unidos como parte do meu doutorado têm me feito parar e pensar até que ponto realmente é possível ser independente.
Pelo sentido etimológico da palavra independência, entende-se uma desconexão com outros sistemas que não o seu próprio: “sou independente e não preciso de ninguém – eu me basto”. Ledo engano. É impossível não depender de ninguém ou de nada. A natureza universalmente é interdependente. Os animais cedo se desliguem de seus progenitores e começam a andar e se alimentar sozinhos. Porém, existe toda uma cadeia alimentar que os interconecta. Os carnívoros precisam de outros animais e os herbívoros de plantas, que também fazem parte de todo o ecossistema e por sua vez dependem de processos interligados. Ou seja, não existe independência no reino animal ou vegetal. O ser humano, cuja diferença fundamental está no pensar, na volitude e na infinita possibilidade de criar sistemas complexos de comportamento, esse, mais que todos os seres vivos, sofre grande dependência do meio externo, a começar pela sua necessidade de acompanhamento por parte dos seus pais ou responsáveis por um longo período de tempo. Quanto mais o ser humano desenvolve seus elaborados processos de alimentação, comunicação, transporte, geração de energia, entre outros tantos, mais dependentes desses processos ele se torna. Historicamente, o ser humano primitivo dependia de simples armas de caça e pesca para se alimentar e sobreviver. Sabe-se que com o tempo começaram a ser criados sistemas agrícolas, entre outros, que foram ficando cada vez mais complicados. A civilização como conhecemos hoje formou uma rede tão intrincada de processos e sistemas que nos tornou mais dependentes do que jamais fomos. Ou seja, em busca de independência e autonomia, o ser humano está cada vez mais dependente.
Quando cheguei em Ithaca, a fim de me acomodar precisei resolver várias questões, todas interdependentes. A primeira delas foi me reportar ao escritório de estudantes estrangeiros (ISSO) e depois ao meu departamento, de onde eu receberia uma licença para obter um número de identificação (NetID) que me permitiria acessar a rede de internet, usar gratuitamente a rede de transporte coletivo e acessar as bibliotecas da universidade, entre outros privilégios. Também foi necessário providenciar um sistema de comunicação com o Brasil, ao qual dei prioridade, pois precisava falar com a família. Para isso, adquiri uma linha de telefone celular, pois do apartamento não posso fazer ligações internacionais. Precisei também abrir uma conta no banco local, a partir da qual a CAPES poderá fazer o depósito da minha bolsa. Só que para abrir a conta, precisei da comprovação de um endereço fixo, que só poderia obter após assinar o contrato de aluguel do local onde estarei morando nos próximos quatro meses. Para resolver tudo isso, é necessário me familiarizar com os sistemas de transporte e de locomoção da cidade. Como cheguei numa quinta-feira, não consegui realizar todas as tarefas, pois existe um trâmite que precisa ser respeitado até obter o NetID, seguido pelo fim de semana, quando a maioria dos serviços não funciona.
Sendo assim, três dias após minha chegada, estou quase incomunicável, pois ainda não consegui acessar a internet, sem a qual vários processos dos quais dependerei não poderão ser realizados. Poderia ter utilizado uma identificação provisória, mas os onze vírus que estavam em meu computador bloquearam meu acesso à rede de Cornell. Como o sistema de tomadas no Brasil é diferente, precisei de um novo cabo para o computador, que consegui com bastante dificuldade. Finalmente, foi feita uma varredura no meu computador, mas é preciso esperar até segunda-feira para obter o acesso à rede, quer provisório, quer via NetID, o que chegar primeiro. Só hoje consegui sair para comprar uma pequena TV para passar meu tempo livre, mas só poderei instalar a TV a cabo segunda-feira, o que significa que ainda não está funcionando. Como está muito frio, decidi não sair mais de casa, pois o ônibus só passa uma vez por hora e já gastei minha cota de táxis por hoje na busca frenética pelo cabo, na esperança de que poderia acessar a rede ainda hoje. Para me comunicar, dependo do computador, do celular e da internet. Para me sentir bem social e afetivamente, dependo da família e dos amigos. Para não morrer de frio, dependo de energia elétrica e do (santo) aquecedor. Para comer, dependo dos restaurantes, das comidas congeladas e bebidas dos supermercados, do fogão e do micro-ondas. Para me locomover, dependo do ônibus, do táxi e dos meus pés, que se não fosse pelo frio congelante, estaria usando mais. Por falar em andar, adeus aos meus saltos altos aqui, pois tenho andado muito. Tive até que comprar sapatos de salto baixo, sacrificando a elegância em função da saúde dos pés e do conforto. Há um ditado local que diz que os alunos de Cornell têm pernas fortes!
Em suma, estou absolutamente presa na rede da nossa dependência das coisas. Na busca por independência e autonomia, o ser humano se enrolou numa interminável teia de dependência dos seus próprios sistemas e processos. E a isso se chama de progresso. Pensando bem, é um progresso saber que somos interdependentes, que não somos uma ilha, como disse John Donne (1). Saber que nossos atos aparentemente inconseqüentes refletem nas vidas dos outros de maneiras imprevisíveis. Acho saudável ser autônoma e quero continuar a busca por essa qualidade, mas acho que vou pensar duas vezes antes de dizer de novo que sou um ser independente.
1“No man is an island entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main”. (John Donne)
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